Este ano será igual, ou pior, para a maioria dos angolanos. Para melhor será, com certeza, para os habituais donos disto tudo, encabeçados pelo clã do José Eduardo dos Santos. Prova disso foi o discurso do Presidente em que este adoça a boca dos marginalizados ao falar do Povo, da luta contra a intolerância e a violência políticas e, é claro, no respeito pela Constituição.
Por Orlando Castro
A lguns observadores referem que é bom sinal o Presidente se ter lembrado e, por isso, lembrar aos seus dirigentes que afinal existe o Povo. Será? Não cremos. É apenas uma, mais uma, forma de falar da floresta para esconder as suas árvores de estimação cujas ramificações estão por todo o lado.
Poderá alguém que não conhece o seu Povo, que está enclausurado nua redoma blindada, que usa a sua guarda pessoal para manter longe os cidadãos, estar preocupado com quem vive no país real? Não. Do Povo real ele tem apenas a imagem, a informação, que lhe é facultada pelos seus generais (militares, políticos, empresariais etc.) e que raramente coincide com a realidade. Por isso teme o veredicto, pacífico ou violento, desse mesmo Povo.
Os indícios claros e inequívocos da quebra do crescimento económico, resultantes da baixa no preço do petróleo, fizeram soar alguns alarmes. A resposta foi aumentar o preço dos combustíveis e, dessa forma, atear um fogo que mais cedo ou mais tarde vai queimar, ou chamuscar, os que se banqueteiam na gamela do poder.
De qualquer modo, mesmo que seja menos o dinheiro que entra – ou que é desviado -, será sempre suficiente para manter a corte existente e, até, para a aumentar embora de forma mais subtil.
Por alguma razão, embora com um discurso formalmente diferente, Eduardo dos Santos, continua a falar do fim da guerra (e isso já foi em 2002) como um feito que justificará eternamente o que o regime promete mas não faz. Esquece-se que todos nós sabemos que, afinal, nessa guerra não existíramos bons e os maus. Foram todos maus.
Diz o Presidente, e bem, que “hoje há mais crianças nas nossas escolas, há mais técnicos e especialistas angolanos nas nossas empresas e instituições administrativas, há mais médicos e professores, a economia cresceu e o prestígio do país no mundo aumentou”.
Mal fora se assim não fosse. Ma isso não faz com que o Povo tenha de pagar durante várias gerações um tributo ao ”querido líder”, tenha durante mais 30 anos de venerar o vencedor e achincalhar o vencido. É isso que Eduardo dos Santos quer, mas não é isso que terá. O Povo quer uma verdadeira reconciliação, coisa que causa enormes alergias ao regime.
O Povo sabe, reconhece e enaltece o que Eduardo dos Santos fez de bom. Mas também sabe o resto. Sabe que se o poder corrompe, o poder absoluto (no caso há 35 anos) corrompe absolutamente. Sabe que qualquer semelhança entre o que se passa em Angola e uma democracia e um Estado de Direito são mera coincidência. Daí querer a sua carta de alforria. E tem direito a ela.
Mas não é isso que o Presidente, nunca eleito nominalmente e no poder desde 1979, quer. Ele quer apoio, como salvador da pátria, para estar no poder indefinidamente. Para isso vai passando a mensagem de que só ele poderá dar aos angolanos o que eles desejam. Para além de “querido líder” e “escolhido de Deus” quer também o epíteto de “insubstituível”.
Com uma ou outra adaptação de marketing, o Presidente diz quase sempre o mesmo. Ou seja, consolidar a paz, reforçar a democracia, preservar a unidade e a coesão nacional, bem como garantir os pressupostos básicos necessários ao desenvolvimento.
Consolidar a paz. Significará isso que a que existe ainda é ténue e que há riscos? Ou é um mero expediente, típico da estratégia de branqueamento ditada pelos especialistas portugueses e brasileiros, para manter vivo um plano B, caso a Oposição ponha as garras de fora?
Reforçar a democracia. Ainda não conseguimos perceber como é possível reforçar uma coisa que não existe. Haver, uma vez ou outra ou quando dá jeito aos donos do país, um simulacro de votação não é propriamente o mesmo que haver democracia. Aliás, sempre que o povo é obrigado a escolher com base na barriga… vazia, isso pode chamar-se qualquer coisa, menos democracia.
Preservar a unidade e a coesão nacional. Embora em Angola existam claramente cidadãos de primeira e de segunda, classificação dada pela sua origem geográfica, a unidade e a coesão solidifica-se com uma coisa que o regime desconhece: equidade social.
Desenvolvimento. O regime, ou seja o MPLA, até sabe como é que isso se faz. Basta trabalhar para os muitos milhões que têm pouco ou nada e não, como acontece desde a independência, para os poucos que têm cada vez mais milhões.
Estas metas sistematicamente apresentadas por José Eduardo dos Santos, aplaudíveis se se estivesse em 1975, revelam que nem com 13 anos de paz efectiva o MPLA conseguir olhar para além do umbigo.
O presidente do MPLA e da República apresenta as suas ideias resumindo-as à necessidade de melhorar a qualidade de vida dos angolanos, elevar a inserção da juventude na vida activa, apoiar o empresariado nacional e reforçar a inserção competitiva de Angola no contexto internacional.
Para tal, considera indispensável a participação de todos os cidadãos, seja qual for a sua inclinação ideológica ou de qualquer outra natureza. É claro que, por experiência própria, os angolanos sabem que são livres para votarem no MPLA.
“A Pátria angolana é uma só, e o MPLA considera que todos os seus filhos devem ter lugar, com igualdade de oportunidades e de benefícios”, frisa reiteradamente aquele que – segundo os pastores da Igreja Evangélica Sinodal de Angola – “é o escolhido de Deus”.
“Que o país tem rumo, hoje já ninguém duvida”, enfatiza o “querido líder”, para quem Angola está a erguer-se graças ao trabalho e ao sacrifício dos seus filhos, melhorando os seus índices de crescimento e desenvolvimento, porque sabe onde está e para onde vai. Ou seja, está nas mãos do MPLA, sempre esteve nas mãos do MPLA e por lá deve permanecer nos próximos 30 anos.
Sou português que tem cinco irmãos que foram enviados para as ex-colónias (4 em Angola e 1 em Moçambique)no tempo do regime fascista. A tropa portuguesa que era mobilizada para fazer uma guerra injusta contra os povos aí residentes. A grande maioria- soldados, sargentos e oficiais milicianos – ia sob coacção. Embora de tenra idade, assisti ao sofrimento de minha mãe, pela ausência de seus filhos e o risco de vida que corriam, face a uma missão injusta e inglória. O povo português à altura, estava do lado da independência dos povos africanos. Porém, não podia alardear esta intenção, sob pena de sofrer com prisão esta “traição à pátria”. Serve esta introdução para censurar um tal José Ribeiro, director do Jornal de Angola, que passa a vida a denegrir os portugueses e a bajular José Eduardo dos Santos, à boa maneira fascista portuguesa do antigamente. Fica-lhe muito mal e só concorre para a degradação das relações entre povos. Pessoalmente, reconheço que JES desempenhou um papel crucial em Angola. Que continua como garante de estabilidade e de desenvolvimento. Porém, é presidente há mais de 35 anos. É demais. A democracia é rotativa. Portanto, deveria JES promover o rejuvenescimento político na República de Angola.